Principais destaques: Painel Científico para a Amazônia na COP16
De 21 de outubro a 1º de novembro de 2024, a Décima Sexta Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP16) foi realizada em Cali, Colômbia, reunindo líderes globais, cientistas, formuladores de políticas e defensores para abordar os desafios urgentes enfrentados pela biodiversidade. A COP16 incluiu a décima primeira reunião do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança e a quinta reunião do Protocolo de Nagoya sobre Recursos Genéticos. A conferência foi a primeira COP focada na biodiversidade desde a adoção da Estrutura Global de Biodiversidade (GBF) de Kunming-Montreal em 2022, com a expectativa de que os Estados membros demonstrem o alinhamento de suas Estratégias e Planos de Ação Nacionais de Biodiversidade (NBSAPs) a essa estrutura. Esse encontro também promoveu medidas essenciais sobre o compartilhamento de benefícios de informações de sequência digital e fortaleceu o papel dos povos indígenas e das comunidades locais na conservação da biodiversidade.
O Painel Científico para a Amazônia (SPA) participou ativamente desse evento histórico, organizando quatro sessões importantes, lançando publicações importantes e contribuindo para vários diálogos sobre a conservação da Amazônia e o desenvolvimento sustentável. Com a missão de unir ciência, política e conhecimento local, o SPA amplificou a voz da Amazônia e ressaltou a importância de abordagens inovadoras e baseadas na ciência para sua proteção. Veja a seguir uma visão mais detalhada do envolvimento do SPA.
Eventos do SPA na COP16
I. Ciência, Tecnologia e Inovação para Novas Socioeconomias Regenerativas na Amazônia
21 de outubro de 2024 - Pavilhão Amazônia Sempre, Zona Azul
Essa sessão marcou o lançamento do site Policy Brief do SPA, intitulado "Uma Rede de Centros de Ciência, Tecnologia e Inovação para Catalisar Socio-Bioeconomias para a Região Amazônica" e uma Declaração oficial do SPA sobre a Biodiversidade Amazônica. Carlos Nobre, copresidente do SPA, enfatizou a necessidade urgente de fazer a transição para sociobioeconomias regenerativas na Amazônia. Marion Adeney, coautora principal da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) Policy Brief, destacou a importância dos polos de inovação para alavancar a diversidade biológica e cultural da região a fim de proteger a biodiversidade, avançar as metas climáticas e proporcionar benefícios equitativos aos povos da Amazônia.
James Albert, coautor principal da Declaração sobre Biodiversidade, enfatizou a necessidade de políticas colaborativas para proteger os ricos ecossistemas da Amazônia, que contêm mais de 10% de todas as espécies nomeadas globalmente e desempenham um papel crucial na regulação global do carbono e da água. Ele argumentou que a realização do potencial da Amazônia exige a integração do conhecimento indígena e local (ILK) com ciência e tecnologia de ponta, com o apoio de uma estrutura sólida para a equidade intercultural e o compartilhamento de benefícios.
Moderado por Marielos Peña-Claros, o painel contou com a participação de especialistas como Lauro Barata (coautor principal do Policy Brief), Juan Guayasamin (coautor principal da Declaração de Biodiversidade), Kevin McCall (especialista sênior em meio ambiente do Banco Mundial) e Nicolás Castaño (pesquisador do Instituto SINCHI). Eles discutiram como as estruturas socioeconômicas baseadas em florestas em pé e rios caudalosos podem impulsionar o crescimento sustentável e a resistência aos impactos das mudanças climáticas. Eles recomendaram políticas para impedir o desmatamento ilegal e, ao mesmo tempo, incentivar práticas sustentáveis.
Os participantes do painel defenderam uma rede colaborativa e transfronteiriça de centros de inovação para mobilizar recursos, promover o intercâmbio de conhecimento e aprimorar as capacidades. Essa rede é fundamental para alcançar avanços em soluções sustentáveis e desenvolver inovações inspiradas na natureza. Ao reconhecer o potencial de biodiversidade da Amazônia e fomentar a colaboração, podemos promover um desenvolvimento sustentável que conserve a natureza e apoie os meios de subsistência dos povos indígenas e das comunidades locais.
II. As universidades e a proteção da Amazônia: Ciência, conhecimento e cooperação para um futuro sustentável
25 de outubro de 2024 - La Casa Humboldt, Zona Verde
Esta sessão, co-organizada com o Instituto CAPAZ e o International Office of Sustainability, abordou o papel transformador que as universidades podem desempenhar na conservação da Amazônia em meio a políticas extrativistas prejudiciais. Gisele Didier, Diretora de Conhecimento do Instituto Alexander von Humboldt, fez o discurso de abertura que preparou o terreno para um painel moderado por María Llinás Soto, Coordenadora do Escritório Internacional de Sustentabilidade.
Entre os participantes do painel estavam:
Marielos Peña-Claros, copresidente do SPA
Gregorio Díaz Mirabal, Coordenador de Mudanças Climáticas e Biodiversidade da COICA e membro do Comitê Estratégico da ZPE
Carlos Larrea, professor e pesquisador da Universidad Andina Simón Bolívar e autor principal do SPA
Stefan Peters, diretor do Instituto CAPAZ e autor do SPA
Tatiana Roa Avendaño, Vice-Ministra de Planejamento Territorial Ambiental, Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia
A discussão enfatizou que as universidades devem promover modelos de desenvolvimento com base na sustentabilidade e no conhecimento local, defendendo abordagens científicas que respeitem os sistemas de conhecimento ancestral. Com foco na educação e na diplomacia científica, o evento ressaltou a cooperação internacional como um mecanismo essencial para influenciar políticas e promover modelos sustentáveis para proteger a Amazônia.
III. Unindo Mundos: Promovendo Diálogos de Conhecimento para a Conservação da Amazônia e o Desenvolvimento Sustentável
26 de outubro de 2024 - Pavilhão Amazônia Forever, Zona Azul
Esse evento lançou duas publicações seminais: o SPA Policy Brief "Áreas Protegidas e Territórios Indígenas: Pilares para atingir as metas de conservação na Amazônia" e o Livro Branco da SDSN "Promovendo Diálogos de Conhecimento na Amazônia: Aprendendo com as melhores práticas e experiências". Marielos Peña-Claros, copresidente do SPA, abriu o evento, seguido pelas apresentações de Carmen Josse, principal autora do Policy Brief, e André Junqueira, principal autor do White Paper da SDSN. Suas apresentações enfatizaram o papel fundamental das Áreas Protegidas (APs) e dos Territórios Indígenas (TIs) para atingir as metas de conservação e promover a resiliência por meio do Conhecimento Indígena e Local (ILK).
Moderada por Emma Torres, coordenadora estratégica do SPA, a sessão contou com contribuições dos autores principais, bem como de Gregorio Díaz Mirabal (COICA e Comitê Estratégico do SPA) e Ana María Gonzalez Velosa, coordenadora do Programa de Paisagens Sustentáveis da Amazônia do Banco Mundial. Carlos Nobre, copresidente do SPA, concluiu com reflexões sobre a integração de ILK em estruturas de conservação.
As discussões enfatizaram que as APs e TIs juntas abrangem cerca de 50% da Amazônia, desempenhando um papel vital na conservação da biodiversidade e na mitigação das mudanças climáticas, pois detêm 58% do estoque de carbono acima do solo da região. A administração dos povos indígenas foi destacada como crucial para a manutenção da conectividade ecológica e cultural. A integração do conhecimento indígena e local para aprimorar os esforços de conservação e adaptação foi considerada essencial, com recomendações para proteger os direitos indígenas, promover a conservação biocultural e garantir uma representação diversificada na tomada de decisões. O evento foi concluído com um apelo a modelos de governança colaborativa que priorizem os direitos e a participação dos indígenas para alcançar resultados sustentáveis em termos de biodiversidade.
IV. Cooperação científica para a conservação das florestas tropicais e o desenvolvimento sustentável: Painéis científicos da Amazônia, Congo e Bornéu
28 de outubro de 2024 - Pavilhão da Parceria GEF, Zona Azul
Esse evento, co-organizado pela Painel Científico para a Amazônia (SPA), pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU (SDSN) e pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), enfatizou a importância da colaboração científica Sul-Sul. O Dr. Cristian Samper, diretor administrativo do Bezos Earth Fund, moderou a sessão, que incluiu percepções iniciais de:
Emma Torres, vice-presidente da SDSN para as Américas e diretora do escritório de Nova York
Dr. Claude Gascon, Diretor de Estratégia e Operações do GEF
Dr. Garo J. Batmanian, Diretor Geral do Serviço Florestal Brasileiro
Os copresidentes da Painel Científico para a Amazônia (SPA), da Bacia do Congo (SPCB) e de Bornéu (SPB) apresentaram seus esforços, conquistas e próximos passos, levando a um diálogo dinâmico focado na colaboração científica entre as três florestas para influenciar as discussões globais e o investimento em instituições e profissionais científicos para a conservação e o desenvolvimento sustentável. Os principais pontos de discussão incluíram os impactos das mudanças climáticas e de uso da terra, soluções baseadas na natureza e a integração do conhecimento indígena e local à pesquisa científica.
Entre os participantes do painel estavam:
Dr. Carlos Nobre, Co-Presidente do SPA
Dra. Marielos Peña-Claros, Co-Presidente do SPA
Dr. Raphaël M. Tshimanga, Co-Presidente do SPCB
Dra. Lydie-Stella Koutika, Co-Presidente do SPCB
Dr. Bonaventure Sonké, Co-Presidente do SPCB
Dr. Mazlin Bin Mokhtar, copresidente da SPB
O discurso de encerramento contou com as reflexões do Dr. Erwin De Nys (Banco Mundial), Aileen Lee (Fundação Moore) e Adriana Moreira (GEF), enfatizando a importância da cooperação inter-regional.
Engajamento mais amplo e participação de alto nível do SPA
A Painel Científico para a Amazônia (SPA) teve um papel importante na COP16, participando ativamente dos diálogos e promovendo soluções baseadas na ciência para a conservação da Amazônia. Os copresidentes do SPA, Dr. Marielos Peña-Claros e Dr. Carlos Nobre, participaram de vários eventos significativos destinados a abordar questões urgentes enfrentadas pela Amazônia, incluindo eventos como: "Cooperação Regional para Evitar o Ponto de Inflexão da Amazônia", organizado pela WWF e OTCA; "Repositório de Conhecimento da Meta-Amazônia: conectando conhecimentos para um futuro sustentável da Amazônia", organizado pela Wyss Academy e WCS; "Desafios na abordagem de crimes ambientais e proteção da biodiversidade", organizado pelo programa TEFOS do governo do Reino Unido; e "Amazônia sob pressão: defendendo os direitos indígenas para evitar um ponto sem retorno", organizado pela STAND.earth.
Além disso, os membros do SPA participaram de outros espaços importantes na COP16, incluindo a apresentação da Rede BioAmazônia, eventos da Alianza NorAmazónica, bem como o evento "Promovendo Soluções Combinando Ciência e Política para a Sociobiodiversidade", organizado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil, com a presença da Ministra Marina Silva.
No Diálogo Ministerial de Alto Nível sobre Sinergias entre Biodiversidade e Mudanças Climáticaso Dr. Carlos Nobre ressaltou a proximidade da Amazônia de um ponto de inflexão ecológico, alertando que a floresta tropical se tornou uma fonte líquida de carbono devido ao desmatamento contínuo e aos incêndios induzidos pelo homem. Ele enfatizou a necessidade urgente de restauração florestal imediata e em larga escala, defendendo uma sociobioeconomia amazônica que priorize florestas em pé e rios caudalosos em vez de indústrias extrativistas. O Dr. Nobre também destacou o papel fundamental dos povos indígenas e das comunidades locais. Durante a sessão, a Ministra do Meio Ambiente da Colômbia e Presidente da COP16, Susana Muhamad, citou a ZPE como referência para estratégias de conservação acionáveis e baseadas na ciência na região.
Além disso, a Rede Pan-Amazônica de Bioeconomia foi lançada pelo World Resources Institute (WRI) e pela Conservation International (CI), criando uma coalizão de mais de 20 organizações, incluindo o SPA. Essa rede tem como objetivo promover uma bioeconomia sustentável e inclusiva em toda a Amazônia, apoiando iniciativas que protejam a biodiversidade, combatam o desmatamento e criem oportunidades econômicas equitativas para as comunidades locais.
Reuniões internas e bilaterais do SPA
Durante a COP16, a equipe do SPA participou de várias reuniões internas para avançar o trabalho no próximo Relatório de Avaliação da Amazônia 2025, que está programado para ser lançado na COP30 em Belém. Essas discussões foram cruciais para alinhar estratégias e garantir que o relatório reflita as mais recentes percepções e recomendações científicas para a conservação da Amazônia.
O SPA também se reuniu com os copresidentes dos Painéis Científicos da Bacia do Congo e de Bornéu, aprimorando a colaboração e o compartilhamento de conhecimento entre os painéis para enfrentar os desafios compartilhados de forma eficaz.
Além disso, foram realizadas reuniões bilaterais com vários aliados e parceiros em potencial, incluindo a Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS) e as principais partes interessadas do setor financeiro, como o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), bem como a Aliados de Impacto, o Bancolombia e o Instituto de Finanças e Sustentabilidade (IFS). Essas discussões se concentraram no fortalecimento de alianças e na exploração de oportunidades de colaboração para promover o desenvolvimento sustentável e os esforços de conservação na Amazônia.
Reconhecimentos e novas nomeações para membros do SPA
Martin von Hildebrand,
Martin, membro do SPA e célebre conservacionista, foi nomeado o novo Secretário Geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Com uma carreira de mais de 50 anos, Martin tem defendido os direitos indígenas e a proteção ambiental na Colômbia, alcançando marcos monumentais de conservação. Seu trabalho ajudou a proteger mais de 200.000 quilômetros quadrados de floresta amazônica, ao mesmo tempo em que promoveu políticas que apoiam a subsistência sustentável de comunidades indígenas e locais. Sua nomeação foi amplamente reconhecida na COP16 como um passo fundamental para reforçar a cooperação entre as nações amazônicas. Espera-se que sua liderança dê início a uma nova era de sinergia entre a OTCA e o SPA, alinhando ainda mais suas missões para uma Amazônia sustentável e biodiversa.
Belén Páez,
Presidente da Fundación Pachamama e membro do SPA, recebeu o Prêmio Thomas E. Lovejoy. Esse prestigioso prêmio, nomeado em homenagem ao biólogo conservacionista pioneiro e membro do Comitê Estratégico do SPA, Dr. Thomas Lovejoy, reconhece as décadas de Belén na defesa da conservação da Amazônia e dos direitos indígenas. Seu trabalho tem sido fundamental para proteger os direitos das comunidades indígenas, promover alternativas econômicas sustentáveis e liderar iniciativas de conservação que priorizam a resiliência ecológica e cultural. Esse reconhecimento é uma prova de sua dedicação inabalável à Amazônia, bem como de seu compromisso em dar continuidade ao legado do Dr. Lovejoy de proteger os ecossistemas mais biodiversos do mundo.
Por meio de seus eventos fundamentais, colaborações e o reconhecimento de seus líderes, o Painel Científico para a Amazônia reafirmou seu compromisso com a conservação da Amazônia e a biodiversidade global na COP16. Os resultados dessa conferência não apenas destacaram a urgência de proteger a Amazônia, mas também enfatizaram seu papel vital no avanço de soluções sustentáveis que integram a conservação ambiental com as necessidades socioeconômicas das comunidades locais. À medida que a ZPE continua a fomentar parcerias inovadoras e a promover estratégias baseadas na ciência, ela está preparada para promover mudanças significativas na luta contra a perda de biodiversidade, garantindo um futuro resiliente e sustentável para a Amazônia e seus habitantes.