Painel Científico para a Amazônia na Cúpula de Ciências da UNGA

Uma recapitulação dos eventos da SPA organizados na Cúpula de Ciências da UNGA, de 19 a 28 de setembro de 2023.

À margem da 78ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA78) e da Cúpula da Ciência, o Painel Científico para a Amazônia (SPA) organizou vários painéis que reuniram representantes do setor financeiro, do meio acadêmico e líderes de povos indígenas e comunidades locais (IPLC). Os diálogos abordaram a conservação da Amazônia, a educação, a ciência, a tecnologia, a inovação, as bioeconomias sustentáveis e o papel vital que os IPLCs desempenham na conservação da Amazônia.

O evento inaugural, "O papel da educação, da ciência e da tecnologia na sobrevivência da Amazônia", foi realizado em 19 de setembro e contou com o seguinte painel de palestrantes:

  • Emma Torres, coordenadora estratégica da SPA, vice-presidente das Américas e chefe do escritório de Nova York da SDSN.

  • Carlos Nobre, Co-Presidente da SPA e Pesquisador Sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.

  • Adalberto Val, Membro do Comitê de Direção Científica da SPA e Pesquisador Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

  • Maria Luiza Paiva, Vice-Presidente Executiva de Sustentabilidade da VALE. 

  • Lauro Barata, Professor e Pesquisador Sênior da Universidade de Campinas e da Universidade do Oeste do Pará.

  • João Meirelles, CEO e Diretor Geral do Instituto Peabiru.

  • Marco Ehrlich, professor de pós-graduação da Universidad El Bosque e ex-diretor adjunto de ciência e tecnologia do Instituto de Pesquisa Amazônica da Colômbia.

  • Francisco Apurinã, administrador de empresas e bolsista de pós-doutorado da Universidade de Helsinque, na Finlândia.

  • Marielos Peña-Claros, Co-Presidente da SPA, Professor de Ecologia e Manejo Florestal e membro do Conselho Acadêmico da Universidade de Wageningen.

Evento "The Role of Education, Science, and Technology on the Survival of the Amazon" (O papel da educação, da ciência e da tecnologia na sobrevivência da Amazônia) no Cure Facilities, Nova York, 19 de setembro de 2023.

As apresentações destacaram a importância da educação, do treinamento e do compartilhamento de conhecimento para a conservação da Amazônia e para o avanço de soluções sustentáveis baseadas na natureza. O evento também destacou a importância da integração do conhecimento indígena e da ciência e a promoção de uma sociobioeconomia para o desenvolvimento sustentável.

As principais mensagens do evento incluíram:

  1. A necessidade de integração dos sistemas de conhecimento: O painel ressaltou a importância da integração do conhecimento científico com o conhecimento local e indígena (ILK).

  2. O investimento em educação, ciência e tecnologia é essencial para compreender a vasta riqueza da Amazônia e transformar o conhecimento em inovações sustentáveis para beneficiar a população amazônica. A importância de estabelecer e conectar centros de pesquisa e desenvolvimento em toda a região também foi enfatizada.

  3. O acesso à educação de qualidade, ao treinamento técnico e às plataformas tecnológicas é fundamental para a conservação da Amazônia e essencial para o fortalecimento das capacidades das comunidades amazônicas.

  4. Uma transição para uma sociobioeconomia (ou seja, por meio de biofábricas), beneficiando as comunidades locais. Carlos Nobre destacou a importância de "novas soluções para manter as florestas em pé e vivas, combinando os potenciais florestais com as mais novas tecnologias e criando espaços para iniciativas de negócios locais".

O segundo evento da série SPA Science Summit, intitulado "Supporting Bioeconomies of a Healthy Standing Forest and Flowing Rivers in the Amazon", foi realizado no dia 22 de setembro. Foi moderado por Roberto Waack, membro do Comitê Estratégico da SPA, presidente do Conselho do Instituto Arapyaú e cofundador da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia e da Coalizão Brasil, Clima, Floresta e Agricultura. O evento contou com os seguintes painelistas:

  • Emma Torres, coordenadora estratégica da SPA, vice-presidente das Américas e chefe do escritório de Nova York da SDSN.

  • Carlos Nobre, Co-Presidente da SPA e Pesquisador Sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.

  • Rachael Garrett, principal autora do SPA e professora da Universidade de Cambridge.

  • Ana Euler, autora da SPA e Diretora Executiva de Negócios da Embrapa

  • Ana María González Velosa, Coordenadora do Programa de Paisagens Sustentáveis da Amazônia do Banco Mundial.

  • Yves Lesenfants, Especialista Sênior em Sustentabilidade e Inclusão do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

  • Gregorio Mirabal, membro do Comitê Estratégico da ZPE e coordenador de Mudanças Climáticas e Biodiversidade da COICA.

  • Marco van der Ree, Membro Fundador do Conselho e atualmente Diretor Executivo interino da Conexsus no Brasil.

Os participantes do painel exploraram os desafios e as oportunidades para o avanço das bioeconomias amazônicas. O desmatamento e a degradação têm sido frequentemente justificados por conta da geração de benefícios econômicos, apesar das evidências limitadas de geração de desenvolvimento inclusivo, observou Rachael Garrett. O painel discutiu um caminho alternativo e sustentável.

O SPA Bioeconomy Policy Brief, lançado durante a Cúpula dos Presidentes da Amazônia em agosto de 2023, serviu como pano de fundo para as discussões. Abaixo estão as principais mensagens do intercâmbio:

  1. A necessidade de estabelecer salvaguardas contra o uso indevido do conceito de bioeconomia. As bioeconomias sociais baseiam-se no uso sustentável e na restauração de florestas saudáveis e rios caudalosos e apoiam o bem-estar, o conhecimento, os direitos e os territórios dos povos indígenas e das comunidades locais.

  2. A segurança da posse da terra, o acesso a políticas públicas, as parcerias de longo prazo e os mercados éticos são fatores-chave para ampliar as sociobioeconomias na Amazônia.

  3. Equilíbrio entre desenvolvimento sustentável e conservação. As discussões enfatizaram a urgência de adotar práticas bioeconômicas sustentáveis que estimulem o crescimento econômico e conservem os recursos naturais da Amazônia. Para isso, são necessárias mudanças estruturais centradas na justiça, na diversidade e na inclusão.

  4. A necessidade de estabelecer um planejamento socioeconômico inclusivo e participativo e processos de implementação colaborativa que se baseiem no conhecimento e nas instituições da IPLC e respeitem seus direitos. O painel ressaltou a importância de fortalecer as capacidades das comunidades locais por meio de ferramentas, troca de conhecimentos e oportunidades de participar ativamente e se beneficiar das atividades bioeconômicas. Foram enfatizadas as oportunidades apresentadas por centenas de iniciativas de sociobioeconomia nos territórios dos IPLC em diferentes estágios de planejamento e ideação.

  5. Conservação da biodiversidade. Os participantes do painel destacaram que as práticas bioeconômicas responsáveis são uma parte vital da proteção da biodiversidade exclusiva da região. Essas práticas podem ser apoiadas por ferramentas abrangentes de análise geoespacial que apoiam decisões estratégicas, facilitam a troca de informações e incentivam investimentos.

  6. O financiamento é essencial para ampliar a bioeconomia em conjunto com um ambiente propício mais amplo, incluindo governança, sistemas de rastreabilidade e parcerias. Instrumentos financeiros inovadores que alavancam os mercados privados, como títulos com retornos para conservação e mitigação de riscos, oferecem oportunidades para aumentar o financiamento da bioeconomia. Também foram destacados os instrumentos financeiros combinados, que usam garantias, subsídios e outros instrumentos de redução de riscos para mobilizar o capital privado, que poderia ser empregado em termos concessionais.

Gregorio Mirabal no evento "Supporting Bioeconomies of a Healthy Standing Forest and Flowing Rivers in the Amazon" (Apoiando a bioeconomia de uma floresta saudável e de rios caudalosos na Amazônia) no Cure Facilities, Nova York, 22 de setembro de 2023.

Em resumo, o painel argumentou que as socioeconomias de florestas saudáveis e rios caudalosos são essenciais para o futuro da Amazônia e de suas populações, incluindo os IPLCs; e enfatizou que a colaboração, o financiamento e a infraestrutura sustentável são facilitadores cruciais para o aumento das socioeconomias.

Como afirmou Gregorio Mirabal (COICA): "O grande desafio na Amazônia é implementar uma economia que respeite os direitos da floresta tropical e os direitos dos povos indígenas."

O terceiro evento do SPA, "O Papel dos Povos Indígenas e das Comunidades Locais na Conservação da Amazônia e na Prevenção de Pontos de Inflexão", foi realizado on-line em 28 de setembro. As discussões giraram em torno das tendências de desmatamento, das ameaças aos IPLCs, da importância dos Territórios Indígenas como barreiras contra o desmatamento e das oportunidades de soluções colaborativas. Marielos Peña-Claros, copresidente do SPA, professor de Ecologia Florestal e Manejo Florestal e membro do Conselho Acadêmico da Universidade de Wageningen, moderou o evento, que contou com os seguintes palestrantes:

  • Luciana Gatti, autora principal do SPA e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil (INPE).

  • Carmen Josse, autora principal da SPA e diretora executiva da Fundación EcoCiencia.

  • Ane Alencar, autora principal da SPA e diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

  • Gasodá Suruí, SPA Autor e coordenador do Centro Cultural Indígena Wagôh Pakob.

  • Lilian Painter, principal autora do SPA e diretora do Programa Bolívia da Wildlife Conservation Society (WCS).

  • André Baniwa, autor principal da SPA e diretor do Departamento de Demarcação de Terras do Ministério dos Povos Indígenas do Brasil.

As discussões durante esse evento foram esclarecedoras e lançaram luz sobre aspectos críticos da conservação da Amazônia e da gestão de terras indígenas. Os principais temas abordados incluíram:

  1. Desmatamento e pontos de não retorno: o evento destacou as tendências alarmantes de desmatamento e degradação ambiental na Amazônia. São necessárias ações urgentes para evitar mais desmatamento e a perda da Amazônia como sumidouro de carbono. 

  2. O papel fundamental dos povos indígenas na conservação da Amazônia, levando em consideração que as Terras Indígenas (TIs) cobrem mais de um quarto da Amazônia. As TIs apresentam um desmatamento significativamente menor do que todas as outras categorias de posse de terra, servindo como importantes amortecedores contra as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade, e emergindo como barreiras cruciais contra o desmatamento (leia mais em nosso Policy Brief).

  3. O importante papel da política e da aplicação da lei para um futuro sustentável, considerando que as TIs demarcadas apresentam um desmatamento significativamente menor do que as terras não reconhecidas.

  4. Desafios e oportunidades: o evento reconheceu as imensas ameaças enfrentadas pelos IPLCs, incluindo invasões de terras, extração ilegal de madeira, mineração e outras formas de exploração. No entanto, houve oportunidades notáveis destacadas como soluções, como o Centro Cultural Indígena Wagôh Pakob, mencionado por Gasodá Suruí, que serve como uma plataforma para valorizar a cultura Suruí e promover o diálogo entre os povos indígenas, cientistas e turistas, ao mesmo tempo em que se concentra no monitoramento e na proteção do território. Outro tópico relevante que foi mencionado foi a importância dos Planos de Vida e Planos de Gestão, como forma de fortalecer a governança territorial.

  5. Pesquisa colaborativa: o evento também discutiu a pesquisa colaborativa entre cientistas e povos indígenas. Essa colaboração produziu resultados valiosos, incluindo iniciativas de monitoramento, esforços de defesa e ferramentas como o "Alerta ClimaIndígena", conforme afirmou Ane Alencar.

Apesar de enfrentarem muitas ameaças, os povos indígenas e as comunidades locais demonstram autonomia e resiliência. É essencial apoiar seus esforços de autogovernança e gestão por meio do reconhecimento dos direitos indígenas, da demarcação de territórios indígenas, do apoio a planos de gestão sustentável, da promoção de financiamento adequado para a gestão e proteção da terra e do atendimento à necessidade urgente de proteger os territórios indígenas e suas inestimáveis contribuições para a conservação da Amazônia.

A presença da SPA na Cúpula Científica da UNGA78 chamou a atenção para as questões críticas enfrentadas pela Amazônia e defendeu ações concretas. Por meio da educação, da ciência e da colaboração, a SPA demonstrou o poder dos esforços coletivos para proteger essa região vital.

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