Ciência através das gerações: Uma Série de Diálogos - Desenvolvimento Sustentável na Amazônia
Na semana passada, o Comitê Consultivo de Jovens (YAC) do Painel Científico para a Amazônia (SPA) lançou sua série de webinars "Ciência entre Gerações". Essa nova série tem como objetivo envolver os membros do YAC em diálogos abertos e intergeracionais com especialistas do SPA sobre a ciência e as principais soluções disponíveis para conservar a Amazônia. A série se concentra na Parte III do Relatório de Avaliação da Amazônia do SPA 2021, com o primeiro webinar abordando especificamente os capítulos 25 e 26 sobre a Visão da Amazônia Viva e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs) na Amazônia.
O webinar contou com a participação dos Autores Líderes do SPA, Dra. Ane Alencar, Diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM); Dra. Lilian Painter, Diretora Nacional da Bolívia da Wildlife Conservation Society (WCS); e Dra. Simone Athayde, Líder de Integridade de Pesquisa do World Resources Institute (WRI). A eles se juntaram quatro membros do SPA YAC, João Pedro Braga, candidato a PhD na University College London, Felipe Storch de Oliveira, candidato a Master of Environmental Management na Yale School of Environment; Pedro Neves de Castro, coordenador da Associação Brasileira de Economistas para a Democracia (ABED), e Nohora Alejandra Quiguantar, fundadora do Tejiendo Pensamiento - jovens líderes e cientistas profundamente comprometidos com a promoção da sustentabilidade e da conservação na Amazônia.
Desenvolvimento sustentável na Amazônia
A Dra. Alencar deu início à sessão com uma visão geral da Visão da Amazônia Viva do Capítulo 25, que tem como objetivo mudar o modelo de desenvolvimento da Amazônia de um modelo orientado por interesses extrativistas e monetários para uma abordagem mais sustentável, inclusiva e ecologicamente centrada. Essa visão exige um modelo colaborativo e equitativo que promova medidas para conservar, restaurar e remediar sistemas terrestres e aquáticos; uma socioeconomia inovadora para o bem-estar humano-ambiental, florestas em pé e rios caudalosos; e o fortalecimento da cidadania e da governança amazônicas.
Em seguida, a Dra. Painter apresentou uma visão geral do Capítulo 26 sobre os ODSs na Amazônia. Ela ressaltou a necessidade urgente de integrar as cinco dimensões dos ODS - Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parceria - no contexto da Amazônia para enfrentar os desafios ambientais e sociais da região. A falta de progresso significativo da região para alcançar os ODS foi significativamente exacerbada pela pandemia da COVID-19, que sobrecarregou os sistemas de saúde e agravou as desigualdades. As principais recomendações incluem o desenvolvimento de metas relevantes localmente, a incorporação do conhecimento indígena, a proteção dos direitos da natureza e das comunidades locais e o estabelecimento de uma parceria global para apoiar práticas sustentáveis.
Árvore amazônica viva
Inclusão de jovens, mulheres e cientistas locais no avanço dos ODSs
Um dos principais temas explorados nas discussões foi o papel das comunidades locais, especialmente dos jovens e das mulheres, na promoção de mudanças sustentáveis na Amazônia. Nohora, uma líder comunitária, compartilhou suas ideias sobre a importância de combinar o conhecimento indígena e local com a pesquisa científica ocidental. Ela enfatizou o valor das "redes de aprendizado" que combinam o conhecimento acadêmico com os sistemas indígenas de conhecimento, especialmente em áreas como saúde e educação. Isso, segundo ela, pode ajudar a preencher a lacuna entre a pesquisa científica e as formas tradicionais de conhecimento, promovendo uma abordagem inclusiva e voltada para a comunidade para a realização dos ODSs.
Ela também destacou a importância da"saúde intercultural", um conceito que vincula a medicina indígena, como a cura baseada em plantas, às práticas médicas modernas. É fundamental apoiar as comunidades locais em seus esforços para preservar e transmitir o conhecimento dos mais velhos, principalmente no que diz respeito à medicina vegetal e às práticas espirituais, que têm o potencial de contribuir significativamente para a assistência médica na região.
Além disso, Nohora enfatizou a importância da participação política das mulheres na Amazônia. Ela enfatizou a necessidade de fóruns que promovam as vozes das mulheres nos processos de tomada de decisão para garantir que as vozes das mulheres e dos líderes comunitários sejam ouvidas no desenvolvimento de políticas inclusivas que reflitam as necessidades da região.
A Visão da Amazônia Viva
O papel da ciência nos mecanismos financeiros para a conservação
O diálogo também abordou como a ciência pode ajudar a criar mecanismos financeiros que apoiem os esforços de conservação na Amazônia. Felipe e Ane compartilharam suas perspectivas sobre os esforços do Brasil para introduzir novos fluxos financeiros para a conservação, como o Tropical Forest Forever Facility (TFFF), que será lançado na COP30 da UNFCCC em Belém.
Felipe enfatizou a necessidade de pesquisas científicas para embasar a criação de instrumentos financeiros, garantindo que eles se alinhem com as realidades locais. Ele destacou a importância de entender a dinâmica socioeconômica das comunidades locais, especialmente em regiões onde as economias tradicionais estão diretamente ligadas à saúde do meio ambiente. Essas percepções podem ajudar a criar políticas financeiras que sejam eficazes na conservação e equitativas para as pessoas que dependem da floresta para sua subsistência.
Áreas urbanas e conservação: Preenchendo a lacuna
A conversa também explorou por que é crucial que os pesquisadores se concentrem nas cidades da Amazônia para avançar nos esforços de conservação. De acordo com Pedro, existe uma relação simbiótica entre as áreas urbanas e rurais da região, principalmente em termos de intercâmbio cultural e fluxos econômicos. As cidades amazônicas servem como centros de governança e consumo de recursos, muitos dos quais são extraídos das florestas circundantes.
Entretanto, a divisão urbano-rural apresenta desafios. A rápida migração das populações rurais para as cidades, em busca de melhores oportunidades econômicas, resultou em áreas urbanas com dificuldades para oferecer serviços básicos como educação, saúde e moradia. Ao mesmo tempo, a urbanização da juventude amazônica significa um declínio na conexão entre as pessoas e a floresta, da qual antes dependiam para sobreviver.
Pedro pediu abordagens mais integradas para a conservação que considerem tanto a dinâmica urbana quanto a rural. Pesquisas sobre como as áreas urbanas interagem com a paisagem rural poderiam fornecer informações valiosas sobre como equilibrar o desenvolvimento econômico com a conservação da biodiversidade da Amazônia.
A importância do conhecimento indígena e local e da colaboração científica
Durante todo o webinar, a importância de combinar o conhecimento indígena e local com a pesquisa científica foi destacada como uma pedra angular para o avanço da conservação e do desenvolvimento sustentável na Amazônia. Os especialistas enfatizaram a necessidade de uma abordagem colaborativa que respeite o conhecimento indígena e local e, ao mesmo tempo, aproveite o poder da ciência moderna. Essa sinergia é essencial para a criação de políticas e mecanismos financeiros que sejam cientificamente sólidos e culturalmente relevantes.
A Dra. Athayde discutiu como o idioma e a diversidade cultural são elementos cruciais nesse processo. Ela enfatizou que o reconhecimento e o respeito aos idiomas e às tradições locais são essenciais para a implementação bem-sucedida de estratégias de desenvolvimento sustentável. Os povos indígenas e as comunidades locais não são apenas receptores passivos dos esforços de conservação; eles são participantes ativos que trazem percepções e práticas valiosas para a mesa.
Um esforço coletivo para o futuro da Amazônia
Essas discussões são um poderoso lembrete de que o futuro da Amazônia depende de uma abordagem coletiva e inclusiva. Desde o empoderamento de mulheres e jovens até a integração do conhecimento indígena e local com a pesquisa científica, todos devem estar a postos para alcançar a Visão da Amazônia Viva e os ODSs na Amazônia. Além disso, mecanismos financeiros inovadores, informados tanto pela ciência quanto pelo conhecimento local, são cruciais para garantir a conservação de longo prazo dos inestimáveis recursos da região.
Enquanto o mundo enfrenta os desafios da mudança climática e da degradação ambiental, as lições do primeiro diálogo "Science Across Generations" fornecem um roteiro para a criação de futuros sustentáveis que beneficiem as pessoas e o planeta. Esse evento foi apenas o início de uma série empolgante que visa a promover a colaboração e a inovação na Amazônia. O YAC continuará a desempenhar um papel fundamental para preencher a lacuna entre a ciência, a política e a próxima geração de líderes comprometidos com a proteção da Amazônia para as gerações futuras.
Assista à gravação do webinar:
Inglês: https://youtu.be/Trb1k2XYam0
Português: https://youtu.be/wXnJi5RUDkA
Espanhol: https://youtu.be/tQxU_qbolWo
O Comitê Consultivo de Jovens (YAC) da ZPE, lançado em setembro de 2024, foi criado pela ZPE para mobilizar a próxima geração de cientistas na região amazônica e garantir que o trabalho da ZPE alcance um público mais amplo. O Comitê amplia as vozes e experiências dos jovens, aproveitando seus conhecimentos, energia e ideias para promover a conservação da Amazônia e avançar as recomendações científicas e políticas relevantes do SPA. O YAC desempenha um papel crucial na integração das perspectivas e inovações dos jovens nas atividades do SPA, contribuindo para a promoção do SPA e de seus resultados entre os jovens em todo o mundo e promovendo a colaboração entre a SPA e as organizações de jovens.