Evento: 'Um diálogo sobre a Amazônia que queremos'

O Painel Científico para a Amazônia (SPA) organizou, juntamente com o Centro de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para a América Latina e o Caribe (CODS) da Universidad de los Andes, um evento de alto nível aberto ao público chamado "Um diálogo sobre a Amazônia que queremos". O evento foi realizado na manhã de 17 de abril de 2024, no Auditório Mario Laserna, em Bogotá, Colômbia.

A abertura do evento foi conduzida por Juan Camilo Cárdenas Campo, Diretor do CODS, Carlos Nobre, Co-Presidente da SPA, e Marielos Peña-Claros, Co-Presidente da SPA. O professor Juan Camilo Cárdenas discutiu a importância da comunicação sobre o trabalho científico, especialmente sobre a proteção do ecossistema, com foco nos desafios enfrentados na Amazônia. Ele destacou a campanha: "Adote um SDG por um dia" para aumentar a conscientização sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs), muitos dos quais se cruzam com questões amazônicas.

O Dr. Carlos Nobre falou sobre a história da SPA, que foi convocada sob os auspícios da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN). Ele enfatizou a necessidade urgente de combater o desmatamento e promover soluções baseadas na natureza na Amazônia. Marielos Peña Claros ressaltou a importância da conectividade e da conservação na visão de um futuro sustentável para a Amazônia, enfatizando a necessidade de esforços coletivos e soluções inovadoras.

A Sra. Susana Muhamad, Ministra do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Colômbia, fez o discurso principal e enfatizou a interdependência crítica entre as regiões andina e amazônica e a necessidade urgente de protegê-la. Ela enfatizou o imperativo de tomar medidas imediatas para fortalecer os laços culturais e políticos entre essas regiões para preservar os ciclos da água e garantir o bem-estar das populações, especialmente com 80% da floresta andina da Colômbia já perdida para o desmatamento.

O apelo de Muhamad foi além de meramente "salvar a Amazônia" para evitar seu colapso iminente, enfatizando a necessidade de esforços regionais coordenados, tanto políticos quanto práticos, para enfrentar os desafios do bioma. Ela defendeu a formulação de políticas com base na ciência e no conhecimento ancestral da região, incentivando as discussões sobre bioeconomia a se originarem dos territórios e de seus povos, questionando seu alinhamento com as demandas dos mercados extrativistas internacionais.

Destacando a importância da COP16 em Cali, Colômbia, no final deste ano, a Sra. Muhamad ressaltou o papel fundamental da Amazônia na interseção das agendas de biodiversidade e clima. Ela enfatizou o envolvimento vital dos povos indígenas e das comunidades locais na conservação da biodiversidade, propondo um painel dedicado entre cientistas ocidentais e comunidades indígenas na conferência. Além disso, ela enfatizou a obtenção da "Paz com a Natureza", o slogan da COP16, a compreensão dos vários conflitos que impedem a resolução da crise socioambiental e a visão da reconstrução da Amazônia como um processo de construção da paz e restauração do tecido social por meio da conservação da natureza. Enfatizando a centralidade dos direitos humanos nas ações ambientais, ela afirmou que o cuidado com o ambiente natural promove a paz em meio a múltiplos conflitos.

Ao concluir, a Sra. Muhamad reiterou o compromisso do governo colombiano em colaborar com a ciência e as comunidades para proteger e restaurar a Amazônia, reconhecendo-a como um nexo entre as agendas de clima e biodiversidade.

Após o discurso inaugural do Ministro, o evento continuou com o primeiro painel de discussão, que teve como foco o desmatamento e a degradação na Amazônia, com o objetivo de identificar áreas prioritárias e possíveis contribuições científicas da ZPE para alcançar o desmatamento zero até 2030. Esse diálogo foi moderado por Manuel Rodríguez-Becerra (Universidad de los Andes) e incluiu intervenções dos principais especialistas da área: Maria Soledad Hernández Gomez (Instituto SINCHI), Omar Franco Torres (Parques Nacionais Cómo Vamos), Dolors Armenteras (Universidade Nacional da Colômbia - Autor da ZPE), Carlos Rodríguez (Tropenbos - Autor da ZPE), Carlos Daniel Cadena Ordoñez (Universidade dos Andes) e Alejandra Laina (WRI Colômbia).

Em sua intervenção, María Soledad Hernández Gómez enfatizou a necessidade de programas de pesquisa focados na gestão da água e da biodiversidade em áreas-chave como Guaviare, Meta, Putumayo e Caquetá. Ela destacou a importância da restauração participativa e da governança comunitária. Omar Franco Torres discutiu as ameaças aos parques nacionais decorrentes do desmatamento, especialmente devido a atividades como a criação de gado. Ele pediu esforços coordenados entre os setores para gerenciar territórios de forma eficaz, incluindo o planejamento estratégico de investimentos.

Dolors Armenteras, enfatizou a importância da pesquisa científica de longo prazo para antecipar e abordar o desmatamento e a degradação. Ela enfatizou a necessidade de esforços de restauração em todas as escalas e a tradução do conhecimento científico para ações efetivas. Carlos Rodríguez enfocou a restauração participativa e a importância da conservação da biodiversidade na Amazônia. Ele destacou o papel do conhecimento indígena nos esforços de restauração e a necessidade de maior investimento na conservação da floresta.

Carlos Daniel Cadena Ordoñez destacou os processos ecológicos de longo prazo que sustentam a biodiversidade amazônica e enfatizou a necessidade de esforços de restauração que priorizem a preservação da diversidade genética. Alejandra María Laina Agudelo enfatizou a importância da conectividade entre os ecossistemas andino e amazônico e a necessidade de colaboração entre as partes interessadas. Ela pediu abordagens inclusivas para a tomada de decisões e a democratização das informações científicas.

Durante a discussão em grupo, os participantes do painel reiteraram a importância do envolvimento da comunidade, da colaboração interdisciplinar, de mecanismos inovadores de financiamento e da tradução do conhecimento científico para esforços eficazes de conservação na Amazônia. Eles também destacaram a necessidade urgente de políticas e ações para lidar com o desmatamento e a degradação.

O segundo painel foi moderado por Emma Torres, Coordenadora Estratégica da SPA, e abordou a sociobioeconomia de florestas saudáveis e rios caudalosos na Amazônia. Essa conversa contou com a participação de Fany Kuiru Castro (COICA), Hernando García Martínez (Instituto Alexander von Humboldt), Sandra Valenzuela de Narvaez (WWF Colômbia), Mariana Gómez Soto (Fundação Gaia) e Carolina Gil (Amazon Conservation Team). 

Os palestrantes apresentaram uma rica variedade de perspectivas sobre a sociobioeconomia da Amazônia, cada um enfatizando diferentes facetas das complexidades e desafios da região. Fany Kuiru Castro articulou a importância das economias indígenas, destacando a necessidade de segurança jurídica para os territórios indígenas e a revitalização dos sistemas de conhecimento tradicional. Ela ressaltou o papel fundamental dos povos indígenas na proteção e no cuidado com a Amazônia, defendendo diálogos intercientíficos para integrar o conhecimento indígena à ciência ocidental.

Sandra Valenzuela de Narváez enfatizou o valor da gestão comunitária tradicional e dos sistemas de conhecimento na formação de socioeconomias sustentáveis. Ela defendeu uma abordagem abrangente que integre considerações ambientais, sociais e econômicas, enfatizando a necessidade de políticas e programas que respeitem a dignidade das populações locais e promovam a saúde das florestas e dos rios. Hernando García Martínez ecoou o apelo por diversas abordagens à bioeconomia, reconhecendo as múltiplas realidades da região amazônica. Ele ressaltou a importância de valorizar a Amazônia por seu valor intrínseco para a humanidade. Ele também pediu maior soberania científica nos esforços de bioprospecção.

Mariana Gómez Soto destacou a importância de proteger a conectividade na Amazônia e promover as economias locais amazônicas com base em sistemas de governança e gestão indígenas. Ela enfatizou os princípios culturais, ecossistêmicos e baseados em direitos que sustentam essas economias e pediu instrumentos relevantes de planejamento do uso da terra que reconheçam e respeitem as prioridades locais. Carolina Gil enfatizou a necessidade de fazer uma pausa e refletir sobre os meios de subsistência das pessoas que vivem na Amazônia. Ela ressaltou a relação vital entre essas comunidades e seus territórios, defendendo uma compreensão mais profunda das relações locais e das diversas maneiras pelas quais as pessoas e a natureza interagem na região.

Juntas, essas intervenções ressaltaram a importância de adotar uma abordagem holística para a sociobioeconomia da Amazônia, que respeite o conhecimento indígena, promova práticas de gestão sustentável e reconheça a conectividade entre os sistemas humano e ecológico.

O "Diálogo sobre a Amazônia que Queremos" ressaltou a interdependência crítica entre as regiões andina e amazônica, enfatizando a necessidade urgente de esforços regionais coordenados para enfrentar os desafios. Desde a defesa das economias indígenas até a promoção de práticas de gestão sustentável e iniciativas de restauração, as discussões apresentaram diversas perspectivas unidas por um compromisso compartilhado com abordagens holísticas, colaboração e envolvimento com as comunidades locais. Reconhecendo a restauração como um pilar para combater o desmatamento e a degradação e, ao mesmo tempo, promover a sociobioeconomia, o evento serviu como uma plataforma fundamental para amplificar diversas vozes, promover o diálogo e catalisar ações coletivas para a realização de "a Amazônia que queremos".

Leia sobre o "Workshop da SPA em Bogotá" aqui.

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